Alex Kurzem se mudou para a Austrália em 1949 e guardou por décadas os segredos do passado, agora revelados no livro “O Mascote”.
“Eles me deram um uniforme, uma pequena arma e uma pequena pistola”, Alex disse à BBC.
“Eles me pediam para fazer pequenos trabalhos - engraxar sapatos, trazer água ou acender a lareira. Mas meu principal trabalho era entreter os soldados. Fazê-los um pouco mais felizes.”
Memórias dolorosas
Em 20 de outubro de 1941, a vila onde Alex morava com a família na Bielorússia foi invadida pelo Exército alemão. O menino de cerca de cinco anos viu todos os homens do local sendo enfileirados e executados. Entre os mortos, estava seu pai.
“Eu não queria morrer, então no meio da noite eu tentei escapar. Dei um beijo na minha mãe e corri para as colinas ao redor da vila.”.
Naquele dia, sua mãe, seu irmão e sua irmã foram mortos. Alex ficou escondido na floresta, tentando não fazer nenhum barulho. Depois que os tiros pararam, ele tentou buscar ajuda.
“Eu batia nas portas das pessoas e eles me davam pedaços de pão, mas me diziam para ir embora. Ninguém me acolheu”, disse Alex. Depois de nove meses na floresta, um homem o entregou à polícia local, que mais tarde foi incorporada à SS nazista. Naquele mesmo dia, pessoas estavam sendo enfileiradas para execução e Alex pensou que ele também morreria.
Identidade falsa
“Havia um soldado perto de mim e eu perguntei: ‘Antes de você me matar, poderia me dar um pedaço de pão?’ Ele me olhou e me levou para trás do prédio da escola. Me examinou com cuidado e viu que eu era judeu. 'Isso não é bom', ele disse.”
“Olha, eu não quero te matar. Mas se eu te deixar aqui, você vai morrer”, disse o soldado.
“Vou te levar comigo, te dar um novo nome e dizer ao outros soldados que você é um órfão russo.”
Ele viu de perto de combates na frente russa e foi até usado pela SS para atrair judeus para sua morte. Do lado de fora dos trens que levavam as vítimas para os campos de concentração, Alex distribuía barras de chocolates para fazê-los entrar.
Em 1944, quando os nazistas estavam perto da derrota, Alex foi entregue a uma família da Letônia. Cinco anos depois, ele conseguiu chegar à Austrália e decidiu manter seu passado em segredo. Nem mesmo sua esposa australiana, Patricia, sabia do que ele tinha passado.
“Quando eu deixei a Europa, eu disse: ‘Esqueça o passado’. Você está indo para um novo país e uma nova vida”, explicou Alex.
“Eu dizia para as pessoas que tinha perdido meus pais na guerra, mas não entrava em detalhes.”
Em 1997, Alex Kurzem decidiu revelar o segredo para sua família e começou uma jornada para descobrir mais sobre seu passado com o filho, Mark. Depois de visitarem a vila onde ele nasceu, eles descobriram que seu nome verdadeiro era Ilya Galperin e recuperaram um filme no arquivo da Letônia em que Alex aparecia com uniforme completo da SS.
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