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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Tsunami Silenciosa

Texto da Revista The Economist de 17 de abril de 2008, traduzido por Mercio Cezar Basso.

Preços dos alimentos estão causando miséria e conflitos ao redor do mundo. São necessárias soluções radicais.

Imagens da fome geralmente mostram olhos passivos e barrigas inchadas. A colheita falha por causa da guerra ou conflitos; o início da crise é súbito e localizado. O fardo cai sobre aqueles que já estão na margem.

As imagens de hoje são diferentes. "Há uma tsunami silenciosa," diz Josette Sheeran do Programa Mundial de Alimentos, uma agência das Nações Unidas. Uma onda de inflação dos preços dos alimentos está movendo através do mundo, deixando tumulto e balançando governos na sua onda. Pela primeira vez em 30 anos, protestos por alimentos estão surgindo em várias partes de uma vez. Bangladesh está em alvoroço; a China mesmo está preocupada. Em outro lugar, a crise dos alimentos de 2008 testará a asserção de Amartya Sen, um economista Indiano, de que fome não acontece nas democracias.

Escassez tradicionalmente significa inanição. As medidas das crises de hoje são miséria e mal nutrição. As classes médias dos países pobres estão dando atenção aos cuidados com a saúde e parando de consumir carne então eles podem ter três refeições por dia. Os pobres médios, que ganham US$ 2,00 por dia estão tirando as crianças da escola e eliminando os vegetais então eles podem ainda consumir arroz. Aqueles que ganham US$ 1,00 por dia estão cortando o consumo de carne, vegetais e uma ou duas farinhas, então eles podem ainda consumir um prato. O desesperado, aquele que ganha US$ 0,50 por dia, é a face do desastre.

Brutalmente, um bilhão de pessoas vivem com US$ 1,00 por dia. Se, numa estimativa conservadora, o custo da comida deles aumentar 20% (e em alguns lugares, eles subiram muito mais), 100 milhões de pessoas poderiam ser forçadas a este nível, de medida comum de absoluta pobreza. Em alguns países, isso eliminaria todos os ganhos em redução de pobreza que eles obtiveram durante a década passada de crescimento. Por causa dos mercados de alimentos que estão em alvoroço, os conflitos civis estão crescendo; e por causa do negócio mesmo estar minado, a crise de alimentos de 2008 pode se tornar um desafio para a globalização.

Primeiro achado US$ 700 mi

Os países ricos precisam conduzir os problemas de alimentos tão seriamente como eles conduzem os créditos. Já as autoridades do Banco Mundial e das Nações Unidas estão chamando para um "novo negócio" para comida. O clamor deles é justificado. Mas achar a coisa certa para ajudar não é tão fácil, parcialmente porque comida não é uma solução única para todos os problemas e parcialmente porque algumas das ajudas necessitadas agora correm o risco de ficarem pior ao longo da corrida.


O ponto de partida poderia ser de que o aumento dos preços dos grãos estão mais pesadamente em alguns lugares do que em outros. Exportadores de alimentos, e países onde os agricultores são auto-suficientes, benéfico. Alguns países - aqueles no Oeste da África que importam os principais produtos deles, ou Bangladesh, com grande quantidade de trabalhadores sem terras - arriscam arruinar e conflito civil. Por causa da severidade lá, o primeiro passo deve ser remendar os furos na segurança da net mundial. Isso significa financiar o Programa Mundial de Alimentos propriamente. O WFP (World Food Programme) é um dos maiores distribuidores de ajuda alimentar e é a mais importante barreira entre a fome das pessoas e a inanição. Como uma família ganha US$ 1,00 por dia num país em desenvolvimento, o poder de compra deles foi reduzido drásticamente pelo aumento do custo dos grãos. Meramente para distribuir a mesma quantidade de alimentos que no ano passado, o WFP precisa - e deveria ter - uns US$ 700mi extra.

E porque os problemas em muitos lugares não são como aqueles, de uma escassez, o WFP estaria autorizado a ampliar-se no que ele faz. No momento, ele quase sempre compra grãos e reparte-os em áreas onde há pouca ou nenhuma comida. Isso é necessário em lugares de escassez devastada, mas ele danifica o mercado local. Na maioria dos países não há nenhuma absoluta escassez e a tarefa é baixar preços domésticos sem fazer muito mal aos agricultores. Isso é melhor feito, distribuindo dinheiro e não comida - como apoio (às vezes inventando) programas de proteção social e esquemas de trabalho-por-comida para o pobre. A agência pode ajudar aqui, embora o fardo principal - o equivalente a dezenas de bilhões de dólares - será apoiado por governos de países em desenvolvimento e emprestando a instituições no Oeste.

Algumas ações são paliativas. Mas a crise dos alimentos de 2008 revelou falhas do mercado em cada ligação da cadeia. Qualquer "novo negócio" provavelmente tenta endereçar os problemas de longa data que estão mantendo os pobres agricultores atrás.

Então parem as distorções.

Em geral, os governos deveriam liberar os mercados, não intervir neles mais pra frente. Comida é crivada com intervenção do estado a cada vez, de subsídios para moínhos para baratear o pão a suborno a agricultores para deixar a terra sem cultivo. O desfecho dessas cotas, subsídios e controles é despejar todas as perdas que em outro negócio deveria ser suavizado através de pequenos ajustamentos dentro de uma parte desregulada da cadeia de alimentos: o mercado internacional.

Por décadas, isto produziu baixos preços mundiais e falta de incentivos para agricultores pobres. Agora, o contrário está acontecendo. Como um resultado de mais uma distorção governamental - desta vez subsídios para biocombustíveis no mundo rico - preços foram para o teto. Governos exageraram mais ainda o problema impondo quotas de exportação e restrições de mercado, aumentando os preços novamente. No passado, o principal argumento para liberação da agricultura era que ela elevaria os preços dos alimentos e aumentaria o retorno aos agricultores. Agora que os preços massivamente extrapolaram, o argumento caminha para para a razão oposta: liberação reduziria os preços, embora deixe os agricultores com uma vida decente.

Há uma exceção ocasional à regra de que os governos deveriam ficar fora da agricultura. Eles podem provêer tecnologia básica; executando projetos de irrigação com capital intensivo a longo prazo para pequenos agricultores encarregarem-se, ou pagando por tecnologia que possa ajudar a produzir maior quantidade de sementes. Mas com cuidado. Muito freqüente - como na Europa, onde supersticiosos descrentes da modificação genética estão lentamente começando a tecnologia - governos mais atrapalham do que ajudam tais avanços. Desde que o caminho para alimentar o mundo não é trazer mais terras para cultivar, mas aumentar rendimentos, ciência é crucial.

Agricultura agora está no limbo. O mundo dos alimentos baratos se foi. Com sorte e boas políticas, haverá um novo equilíbrio. A transição de um para o outro está sendo mais custosamente e dolorida do que qualquer um pudesse esperar. Mas a mudança é desejável e os governos deveriam estar buscando aliviar a dor da transição, não parar o processo em si.

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