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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O SEPARATISMO GAÚCHO

Em época de Semana Farroupilha no Rio Grande do Sul, transcrevo um artigo escrito na Gazeta Mercantil há muito tempo pelo Sr. Jarbas Passarinho. Apenas quero deixar bem claro que estou reproduzindo a opinião sobre o separatismo e não estou defendendo, enaltecendo ou julgando o ex senador e ex ministro Jarbas Passarinho.

O SEPARATISMO GAÚCHO - Jarbas Passarinho
Iniciei-me na vida militar na Escola Preparatória de Cadetes, em Porto Alegre, em que se transformara o Colégio Militar daquela capital. Por isso mesmo, encontramos no corpo de alunos grande contingente de gaúchos. O Contato com aqueles prezados camaradas de farda nunca no permitiu ter dúvidas a respeito da brasilidade rio-grandense-do-sul. Ao contrário da suspeição de sentimentos separatistas em decorrência da luta fratricida que, por dez anos talou o território do Rio Grande, no 2º Império, sempre ouvi de meus colegas peremptória declaração de orgulho de serem brasileiros. Chegavam a utilizar um argumento irrespondível, quando brincavam com seus companheiros de outros Estados: "Nós-diziam eles-somos brasileiros por opção, enquanto vocês o são em decorrência da linha de Tordesilhas..."

A história registra, nos duros embates dos farroupilhas contra as forças imperiais, passagens edificantes como a conhecida  e altiva resposta de David Canabarro, um dos chefes mais prestigiosos dos rebeldes, à imprudente oferta de uruguaios, para com ele se associarem na luta contra a Coroa. O primeiro oriental que ousar atravessar a fronteira, com esse fim, selará com seu sangue a paz farroupilha com o Império, respondeu-lhe Canabarro. E ainda que Bento Gonçalves seja estrela fulgurante no relicário dos seus heróis, e não Bento Manoel, isso significa um traço tradicional dos gaúchos; o repúdio aos "vira-casaca" e não a rejeição ao sentimento de brasilidade.

Nós, do Norte, igualmente brasileiros em decorrência da proeza esquecida de Pedro Teixeira, empurrando a linha de Tordesilhas de Belém para o Javari, devemos muito aos gaúchos, na consolidação do nosso território como brasileiro. Tive oportunidade, faz mais de 15 anos, de, conversando com Moisés Velhinho, lembrar-me da contribuição gaúcha à brasilidade dos nortistas não se limitava a Plácido de Castro, na conquista do Acre - incluía Joaquim Caetano da Silva, que nos proporcionou estender os limites pátrios até o Oiapoque. Passava pelo jovem capitão gaúcho Nelson de Melo, que, interventor no Amazonas, cancelou todas as concessões territoriais - e eram enormes! - que entregavam a americanos, australianos e japoneses praticamente toda a superfície amazonense. Mais tarde, o malogro da tentativa da "Hiléia Amazônica" deveu-se não só à reação do senador Augusto Meira e do deputado Arthur Bernardes, mas igualmente a Cordeiro de Faria, que chefiava o Estado-Maior das Forças Armadas, de recente criação. Mesmo na literatura, é de Raul Bopp o "Cobra Norato". Moisés Velhinho aproveitou a tese e a desenvolveu em um de seus melhores livros.

Muito ficamos a dever aos gaúchos, e eis que agora um trêfego sr. Estrela, que acaba de fundar um partido político cuja finalidade é separar o Rio Grande do Brasil, decide explicar suas razões, agredindo-nos a nós nortistas e nordestinos. Disse ele que a única ligação que temos é a mesma língua, mas que "nortistas e nordestinos falam-na chiando". Buscando outras dessemelhanças, afirmou que até ao fazer amor somos diferentes, pois que fazemos na rede. Ao mau gosto, juntou esse sr. Estrela a vulgaridade e a chulice . A essa altura é possível que no mesmo diapasão, alguém já lhe tenha dado resposta igualmente chula mas havemos de convir que, como argumento separatista, a observação, ainda que verdadeira fosse, pretende ser pejorativa e na verdade é apenas reveladora do primarismo do seu autor. Quisesse ele e encontraria verdadeiras diferenças de costumes, como o hábito do chimarrão, por exemplo, em contraposição ao do chibé (que ele não sabe o que é), mas essas diferenças nunca chegaram a anos separar , a nos fazer estranhos uns aos outros.

Há, isso sim, uma diferença basilar, e ela está no glorioso Rio Grande do Sul: é que embora a raça dos Canabarro ainda não se tenha extinguido, parece crescer a dos Estrelas, pequeninos, insignificantes, ávidos do pior tipo de notoriedade, a que cerca de sombras os imprudentes.

Os Gaúchos, cujos ancestrais escreveram a bela saga de brasilidade, expulsaram a tropel de cavalo e a pontaços de lança os inimigos que tantas vezes tentaram o domínio da província do Rio Grande, haverá de dar a esse infeliz partido, que pretende servir-se da auréola que ilumina a epopéia farroupilha, o destino natural das coisas desprezíveis. E continuaremos todos brasileiros, nós nortistas, segundo nosso agressor, usando rede para fazer amor, e os gaúchos dominando as coxilhas onde começa o Brasil.

Jarbas Passarinho. Foi Governador do pará, ministro do trabalho (governo Costa e Silva), da Educação (governo Médici) e da Previdência Social (governo Figueiredo).    

Um comentário:

Sangineto disse...

Olá Basso sou a favor da República Riograndense de 35, qual tua opinião sobre o assunto?
Sangineto
cidadão riograndense/pré-candidato
vereador em Poa.